terça-feira, 13 de julho de 2010

O corpo doía do cansaço de ter ficado em pé a noite inteira e o espelho do banheiro denunciava a maquiagem preta que tinha tido preguiça de tirar antes de dormir. O cabelo tinha um bagunçado engraçado, quase poético, coisa que alguém definiria como beleza matinal – ou natural, embora denunciasse os lugares fechados e os amigos fumantes da noite anterior. E como não podia deixar de ser, o pijama descombinado também denunciava a pressa em dormir. Caminhei pela casa com um copo de água procurando algum remédio que curasse a dor de cabeça. O café da manhã ia ser dipirona. Não sou o tipo de pessoa que tinha uma gaveta organizada. Acho mais interessante ter coisas perdidas por aí em vez de ter a dura certeza de que não tinha o que procurava naquele momento. "Organização acaba com as esperanças". A verdade é que não acho certo um espírito livre viver no meio da perfeição. Achei o remédio e fiquei aliviada por não ter que ir até a farmácia naquela hora da manhã, mesmo sendo quase duas horas da tarde. Comi algo estranho para começar o dia - uma colher de sorvete. Joguei as roupas impregnadas de Malboro Light na máquina de lavar. Sai da cozinha, liguei o som e fiquei ouvindo a cantora Elis Regina deitada no sofá, ainda de olhos fechados. Ri de algumas besteiras da noite anterior, lembrei dos amigos, das risadas altas e das conversas profundas demais para as madrugadas. Pensei na loira linda que eu me fiz não tava interressada. Pensei no que ia fazer mais tarde. Percebi que era cedo demais para pensar nisso. Lembrei que não pensava nem sentia falta dela há alguns dias – e não era pelo final de semana cheio. Dei um sorrisinho de canto de boca. Preferia as manhãs de dia de semana sem as conturbações das noites de sábado.

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